Do amor aos livros.

Há uns tempos atrás deixei de ler. Embrenhei-me demasiado na vida, nas exigências da faculdade em Madrid e na ansiedade que gerir o tempo me causava. Ao deixar de ler senti uma parte de mim ir embora, como se estivesse menos cheia, menos capaz de olhar e ver. Agora apeguei-me aos livros de novo, com esta vontade de me aproximar de mim - e eles chegaram, que nem abraço quente num dia de Inverno. Adoro perder-me em páginas, mergulhar em emoções e histórias que não são as minhas. Murakami cai sempre bem, Rosa Montero lembra-me Madrid e ninguém é capaz de transmitir doçura como o Ondjaki.


Desde muito pequena que deixo recados em livros, sejam mensagens sem destino nos livros da biblioteca ou cartas deixadas propositadamente num certo livro com destinatário certo. Deixei de o fazer quando senti que a beleza que via no mundo começava a desvanecer, como se fosse apenas e só produto dos meus olhos. Desta vez fui eu surpreendida com uma dessas notas esquecida por alguém - as pessoas conseguem ser tão bonitas.


"Guiducha, 
Que é feito da menina? Nunca mais tive notícias suas, terá ido inovar para a França, como tínhamos falado, visto ter familiares, são interrogações que faço mas as saudades apertam comigo. Lembro das suas gargalhadas e, algumas vezes conseguia o seu objectivo de me fazer sorrir. A saudade faz parte da minha vida. Tudo de bom que eu possuía vai desaparecendo. Despeço-me com um abraço do tamanho do Sol que envolve a minha querida
Ana"

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